Cotton
Envergava uma camisa branca cuja textura fazia lembrar algodão-doce. A esplanada encontrava-se atravancada de turistas com aspecto e tiques de lagostas. Um festim para moscas e insectos vários a que se mantiveram todos mais ou menos indiferentes. De quando em vez ouvia-se algures um estalido na testa ou no antebraço no intuito de afugentar algum muscídeo mais impertinente. O tipo da camisa algodão-doce percorria com o olhar vago as imediações enquanto aguardava pelo atendimento.Usava calças verdes de jeans e sapatos pretos bicudos. O calor não dava tréguas e a maioria dos presentes ostentava bolinhas de suor na testa. Era profusa a mistura de idiomas na esplanada mas predominavam o espanhol e o italiano. O fulano da camisa algodão-doce levantou por duas ou três vezes o braço direito com o fito de reclamar a atenção dos empregados que se encontravam assoberbados de pedidos. Havia já queixumes pelo facto dos cafés chegarem mornos às mesas e as imperiais sem a pressão ideal. O espécime da camisa algodão-doce foi-se deixando estar, pairando no ar a ideia de que acreditava ser um cliente intrinsecamente preferencial que enquanto não era atendido deveria no mínimo ser alvo de olhares femininos furtivos. As moscas acudiam-lhe à cabeça de modo que se via forçado vezes sem conta a acariciar o crânio num gesto facilmente confundível com simples vaidade.