dawntown

...it sticks between the teeth of the mind...

Saturday, September 30, 2006

 
Antropo
Pena não terem uma vista panorâmica sobre si próprios. Quando abanam a cauda de contentes com a palmada enxuta nas costas, cegos ante o cinismo que tanto lhes exalta a euforia congénita como maldiz o aglomerado de berberes na rampa do teatro. Quando o cunho identitário suplanta a maestria na arte, o orgulho pueril verbera causas de braguilha aberta e os náufragos do deserto dão à costa tomando o frio por esperança.

Thursday, September 28, 2006

 
Contraponto
L Word pouco mais é do que o avesso lésbico de Sexo e a Cidade.Pouco mais ou quiça essencialmente. Baixa-se em cerca de dez anos a média etária de Sexo e a Cidade, troca-se Nova Iorque por Los Angeles, um quarteto de fêmeas heterossexuais sedentas de sexo e romance por um sexteto de lésbicas sequiosas de sexo e aventuras. Trocam-se ainda as toilettes de luxo por outfits mundanos, uma cronista de renome por uma jovem ficcionista prenhe de bloqueios criativos e sexualmente ambivalente, uma galerista de sucesso por uma directora artística emergente, uma predadora sexual acima dos 40 por uma novata depravada vai com todas, um heterossexual seguro, inteligente e esquivo a compromissos por um moço heterossexual casamenteiro, inseguro e atordoado como uma tartaruga recém-nascida, clubes e festas de primeira por espeluncas underground, inseguranças e tibiezas da mulher cosmopolita pela combatividade e constante exaltação da lésbica contemporânea, o proverbial apelo da maternidade e do lar tradicionalista pela ambição de conquista do direito a um novo modelo familiar nuclear, a ausência de um discurso feminista por uma pose militante, o fim do século vinte pelo dealbar do novo milénio, e temos o esqueleto de L Word. Em Sexo e a Cidade o importante era história, em L Word o que importa é sobretudo a mensagem. Daí resultando a exigente disponibilidade física cobrada às actrizes. Sexo e a Cidade – estafantes reposições e repetições na Sic. L Word – RTP 2

Wednesday, September 27, 2006

 
Descafeinado
On today's market, we find a whole series of products deprived of their malignant property:coffee without caffein,cream without fat,beer without alcohol...And the list goes on:what about virtual sex as sex without sex,the contemporary redefinition of politics as the art of expert administration as politics without politics,up to today's tolerant liberal multiculturalism as an experience of the Other deprived of its Otherness.Virtual Reality simply generalizes this procedure of offering a product deprived of its substance:it provides reality itself deprived of its substance, of the hard resistant kernel of the Real - just as decaffeinated coffee smells and tastes like real coffee without being the real coffee, Virtual Reality is experienced as reality without being so.
Slavoj Zizek in The Puppet And the Dwarf

Tuesday, September 26, 2006

 
Dolphy
...e a protuberância do tamanho de uma bola de ténis no centro da testa. Pensá-la não como deformidade mas como o suplemento cerebral responsável pelo seu expressionismo, pela inventividade e ânsia transgressora.

 
Good reading
O que vimos surpreendeu a todos. Mas principalmente o que ouvimos: a linguagem de Natascha era bizarramente televisiva, com uma qualidade acima da média. A sua amplitude lexical era notável e nela cabia até uma preocupação rara pelos seus próprios limites: hesitando sobre se deveria chamar “masmorra” ou “quarto” ao lugar onde passou oito anos, queixou-se de que “a língua alemã não dá muitas alternativas”. Tal como os meninos da selva aprenderam a linguagem dos animais, Natascha aprendeu a linguagem dos media.Aqui

Sunday, September 24, 2006

 
Caça
De então em diante declarava-se anacrónica a animosidade entre tribos. Passariam a acreditar no mesmo totem e os homens poderiam amancebar nos dois lados da fronteira definida pelo ponto em que vicejava a suposta mais velha árvore das redondezas. Os chefes adoptaram um trato urbano e edificante nas negociações relativas a administração da justiça, manutenção da paz militar, celebração de casamentos, rituais, observação de um calendário religioso, exploração agrícola e pastorícia. Era avisado o compromisso. Contudo, o empenho contratualista não se revelava assim tão fiável a prazo. Sob a esteira de matérias sujeitas ao inédito pacto político subjaziam incólumes inquietantes indefinições quanto à abolição dos limites territoriais da caça. O vazio negocial sobre esse particular descobriu-se tácito dado que em ambos os lados foi notório melindre da sua enunciação de tal modo fingiram todos olvidá-lo durante as várias e longas rondas de conversações, preferindo deixar a sua resolução a soldo de um devir incerto e potencialmente ingrato.

Wednesday, September 20, 2006

 
Streets
Não me parece que deus pertença a este lugar. Não vagabundeia por estas ruas, não se encafua em contentores de lixo de modo a espreitar-me os passos, não me vigia os actos do interior de cabines telefónicas. Não me escrutina pensamentos quando o rastilho de palavras jorradas por transeuntes tagarelas ameaça radiografar-me o cérebro. Não é a mulher que esconde o rosto por trás do jornal nem a ninfomaníaca militante do safe sex. Não é o sopro que depena árvores e greta lábios no Outono. Não é a voz que profere sentenças quando o barbeiro me encosta a navalha à garganta. Tenho buscado deus nos lugares errados? Ou não passará deus de um tipo madraço, frustrado e demasiado caseiro.

Tuesday, September 19, 2006

 
Bliss
O tempo não augura grande coisa. Vermes que bordejam olhos. Pés que deixam pegadas suadas em ladrilhos. Costas arqueadas como ventres. Ferimentos insanáveis rente à carne. Não há idade nem desejo ou sincronia nos corpos. Se ao menos não fosse tudo, sonhos inclusos, pura emanação do real.

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