dawntown

...it sticks between the teeth of the mind...

Sunday, December 31, 2006

 
You (II)

Is this digital democracy, or a new tyranny of cyberspace?The hype of freedom on the web masks both disparities of power and the dangers of blurring real and virtual identities. Slavoj Zizek,aqui.Uma análise, diga-se sem peias, banal e retorcida. Para além ázimo Zizek repete-se ao recuperar o que será provavelmente o seu parágrafo mais célebre - o tal da sociedade descafeinada. Chega a ser confrangedor deparar com tais reservas face ao ciberespaço. Esta tendência para vergastar as fragilidades do meio em prejuízo dos seus múltiplos benefícios, por sinal largamente insofismáveis. Zizek sugere que o grosso da fauna web deforma o ideal democrático engendrando um hediondo e circular jogo de espelhos identitários.Ou seja, encena na internet o que não é na vida real. Mas afinal, que esfera do social, ou do real, se encontra a salvo da comparência de seres malfeitores, mal intencionados e dissimulados. Que coordenadas da realidade não sao afrontadas por gatos travestidos de lebres? Não será a web o reflexo amplificado dessa casa de espelhos primeva. Não pediam os monarcas aos seus retratistas que apoucassem as suas debilidades físicas? Não dispõem os políticos de séquitos de assessores responsáveis pelo esbatimento aos olhos do público de traços menos eloquentes da sua personalidade?Quantas gatas borralheiras?Quantos tomados por pais de família exemplares revelaram-se pedófilos, violadores, assassinos, crápulas?Não é a história da História também um chorrilho de manipulações e simulácros? What's new about the web? Porque será tão mais cómodo atacar as fissuras éticas da web do que as hipocrisias crónicas do real? Sugere-se, entretanto, a leitura dos comentários à crónica de Zizek.

Friday, December 29, 2006

 
Cool like that

 
Gadgets
Já houve quem aguardasse demasiado das novas tecnologias : Quanto a este instrumento para ouvir a grandes distâncias, o telefone, disseram-nos que o inventor espera aperfeiçoar a audibilidade da transmissão: se há uma ou outra frase que chega perfeitamente distinta, na maior parte dos casos apenas as vogais são reproduzidas fielmente e as consoantes são irreconhecíveis. Mas há-de ser certamente aperfeiçoado. E que benção será para a humanidade quando, graças a este instrumento, pudermos ter uma ópera italiana, uma peça de Shakespeare, um debate no Congresso, um sermão do nosso pregador favorito a chegar-nos como o gás à nossa própria casa. As possibilidades para a instrução do público são ilimitadas. Pensa em todos os que não têm meios para comprar bilhetes para o teatro a poderem ouvir o espectáculo por telefone.Quando houver um telefone em cada casa, será que ainda alguém irá ao teatro?

Friday, December 22, 2006

 
Lie

Thursday, December 21, 2006

 
You
A spokesman for Time admitted that, had they chosen a single person who "most affected the news and our lives, and embodied what was important about the year, for better or for worse", it would have been President Ahmadinejad of Iran. But a lot of people would have been upset at that decision, so they plumped for the feel-good group, You.Aqui Pois é, parece que ao atribuir o título pessoa do ano à ciberlandia a Time mais não fez do que livrar-se de uma pedra no sapato. Solução de recurso a bem da psique americana, tão amolgada pela derrota militar no Iraque e pelo atoleiro afegão.Contudo, uma vez homenageado o formigueiro internético, creio não haver razões de monta para que Marcel Berlins manifeste tamanho desdém pelos voluntariosos anónimos(grosso modo) que alimentam o caudal de conteúdos da web. É evidente a sua influência sobre os media tradicionais. É evidente que minoram a relevância de certos mediadores na pirâmide comunicacional e na transmissão do saber. É óbvio que encetaram novos índices escrutínio, democraticidade e comunitarismo. Inegável que imprimiram maior velocidade à reacção aos acontecimentos e alteraram práticas jornalísticas. Etc. Indiscutível que nada disso está imune a debates e críticas. Inquestionável a existência de esquinas muito mal iluminadas na cibertrópole. Mas os ganhos são descomunais. What's so great about 'ordinary' people? Marcel Berlins poderia começar por atentar no uso que o jornal em que escreve já faz do You Tube.

Wednesday, December 13, 2006

 
A vitória de Pinochet
O debate entre esquerda e direita por vezes mais se assemelha a um jogo de garotos prenhes de soberba, pertinazes até ao absurdo na defesa dos seus pontos de vista. Há semanas John Leguizamo, protagonista de Summer of Sam, de Spike Lee, foi ao programa de Conan O'Brien publicitar o livro em que faz uma súmula dos episódios mais hilariantes da sua carreira e desvenda um ramalhete de ridículos providenciados por colegas de profissão. Uma das bizarrias leva a assinatura do inigualável Steven Seagal. Conta Leguizamo que a meio de certo filme Seagal não quis morrer apesar do guião assim o determinar. Na rodagem da cena em que era pressuposto morrer Seagal desfez-se numa birra digna de diva, alegando que os seus fãs não esperam vê-lo cair em combate. A equipa foi apanhada de surpresa, as máquinas pararam, convocou-se o gabinete de crise, e depois Seagal acabou mesmo por ter que fenecer. Ora, no debate esquerda-direita, muitas vezes mais do que argumentos esgrimem-se egos, orgulhos, obstinações, honras, caprichos.Foi o que se viu com a morte de Pinochet.Vá-se lá entender as manifestações de júbilo e contentamento pela morte do homem.Provavelmente os que rejubilaram com o passamento de Pinochet mais não fizeram do que regurgitar a sua própria impotência, a sua derrota. Afinal, Pinochet viveu até aos 91 anos sem que fosse beliscado pelos crimes que apadrinhara.Para escapulir-se às maçadas da justiça invocou para si o que recusara a milhares de chilenos - direitos humanos.E com uma sarcástica piscadela de olho, morreu,de velho e em paz, no dia mundial dos direitos humanos.O que uma parte dos chilenos(e alguma esquerda europeia) festejou foi apenas o desaparecimento tranquilo e natural de um fantasma, de um espectro, contra o qual nada pôde em tempo útil.Os festejos foram, portanto, tão só catárticos. A catarse possível aos derrotados. Entretanto, não seria de admirar que a direita vingasse as efusões de alegria pela morte de Pinochet com moeda similar aquando da tão desejada morte de Fidel Castro. Mas, não existirão diferenças simbólicas significativas entre a morte de um e outro?O que a direita mais almeja celebrar com a morte de Fidel não é o potencial colapso do regime?E quem garante que assim sucederá? Caso o regime prevaleça, ainda que com novas nuances, não se precipitaria a direita no abrir garrafas de champagne?Não estaria a colocar o carro funerário à frente dos bois? À semelhança dos assomos de euforia em Santiago, de que serviriam cortejos de carros alegóricos em Miami, se em Havana tudo se mantivesse na mesma, ou quase?

Wednesday, December 06, 2006

 
Kramer dixit

Tomei conhecimento no Guardian de mais um trambolhão de Cosmo Kramer(Michael Richards).Desta vez um trambolhão a sério.Desastroso. No decurso de um número de stand-up, em Los Angeles,o actor/comediante que dera alma à inexcedível personagem Cosmo Kramer de Seinfeld, perdeu as estribeiras e lançou-se numa diatribe racista vergonhosa e reles depois de apupado por um elemento da assistência, no caso um afro-americano. Richards não se conteve e ripostou com insultos racistas da pior índole.Por sorte(não de Richards) alguém registou o incidente com o telemóvel e depositou o filme na internet que o propagou à velocidade da luz. Richards viu-se assim em maus lençóis e forçado(o termo é propositado) a pedidos de desculpa. Na verdade o inferno está entupido desses apelos à clemência. No programa de David Letterman, Richards tentou explicar-se e retratar-se. Como era previsível pouco mais conseguiu do que embrulhar-se num manto de palavras desconexas, mostrando-se profundamente(?!) afectado e perplexo consigo próprio, tal qual um womanizer de craveira que se descobre com uma erecção viçosa num balneário masculino. Richards diz-se convictamente não-racista. Como acreditar?Ao contrário de Mel Gibson, Richards não tem sequer o falso alibi do álcool. Donde terá então saído todo aquele esterco?Convenhamos que teve que sair de algum lado, nada respirável, da sua pessoa. O caso mereceu algumas linhas na blogosfera portuguesa. Por exemplo, aqui e aqui.Estes blogues de esquerda assumem um tom condenatório face ao despiste racista de Richards, mas partem do princípio de que Richards é no fundo um tipo porreiro que cedera a um momento de insensatez desencadeado pela fúria, como tantas vezes sucede no trânsito ou em brigas domésticas.Portanto, nada melhor do que deixar a cargo do tempo a diluição do problema. O tempo fará esquecer o assunto e voltaremos a vislumbrar em Richards o não-racista que sempre aparentou ser. Os escribas do Guardian que opinaram sobre o caso foram liminarmente implacáveis com Richards, não lhe antevendo saída para a caverna em que se meteu.Creio que esta diferença de posturas muito se deve à pose portuguesa em relação a questões de racismo. Existe por aqui uma brandura, uma ambiguidade, um desviar o olhar, um encolher de ombros, uma certa complacência face a situações de racismo que, entretanto, se encaixa na crença generalizada de que o país não é racista. De resto, a estirpe de não-racistas a que pertence Michael Richards, viceja bastante por aqui. São não-racistas desde que os outros se coloquem e se mantenham no seu devido lugar.

Friday, December 01, 2006

 
Ventura

Considerar Juventude em Marcha, de Pedro Costa, uma obra-prima como fizeram Francisco Ferreira e M.Cintra Ferreira, críticos do Expresso, talvez seja um exagero. Mas conceda-se que existem no filme momentos sublimes. O genial plano-sequência do gira-discos, por exemplo.

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