Preservativo Quando há anos questionaram na televisão um produtor de filmes pronográficos português sobre as reticências do meio ao uso do preservativo, a resposta foi peremptória – você prefere ver uma cena de sexo com ou sem preservativo? Pois bem, a pergunta poderia ter sido mais demolidora - você prefere fazer sexo com ou sem preservativo? Acontece que ao levar a debate um assunto como a pornografia a televisão coloca-se em posição pouco confortável. Note-se por exemplo que os telejornais têm praticamente a longevidade de um filme pornográfico(podendo-se sempre optar pelo noticiário alternativo do serviço público que tem a duração de um episódio de uma sitcom). A pornografia, no limite, gera vácuo. Não se tem sensação diversa de vácuo ao ver a televisão portuguesa, mecanizada numa dinâmica de anestesiamento crítico, intelectual e até político. Poucos documentários dignos de nota(os dedicados ao blues, a Bob Dylan e mais recentemente ao 11 de Setembro são excepções que sublinham a regra). Nada de entrevistas com grandes vultos mundiais da cultura e do pensamento numa era tão sedenta de interpretações inteligentes, fracturantes e inspiradoras. Nada de filmes incontornáveis, clássicos ou contemporâneos(quem os quiser que os pague no canal codificado mais próximo dado que o serviço público tem mais que fazer que assegurar este obséquio cultural num país de renda exígua para a maior parte dos seus indígenas). Em contrapartida, algo de mais ou menos novo. Excesso de frivolidade civilizacional e politiquice a rodos. Nunca houve tantos comentadores de toda a espécie a infestar canais televisivos, oriundos directa ou obliquamente de fileiras partidárias ou representantes anódinos da tal sociedade civil cujo içamento à televisão, em tempos, tantos entenderam inadiável. A televisão abriu-se ao país e fechou-se ao mundo. Transformou-se num fim social em si. Num espaço promocional sabiamente gerido pelos seus fazedores e avidamente cobiçado pelos demais. O mundo a sério pode esperar. A TV Cabo não satisfeita com a inenarrável exclusão do Arte da sua grelha deu-se ainda ao capricho de substituir o GNT pela evangélica TV Record. A ver vamos se o Mezzo não tem os dias contados. Sim, porque tudo pode esperar-se deste preservativo gigante que nos domina.