dawntown

...it sticks between the teeth of the mind...

Saturday, October 14, 2006

 
Preservativo
Quando há anos questionaram na televisão um produtor de filmes pronográficos português sobre as reticências do meio ao uso do preservativo, a resposta foi peremptória – você prefere ver uma cena de sexo com ou sem preservativo? Pois bem, a pergunta poderia ter sido mais demolidora - você prefere fazer sexo com ou sem preservativo? Acontece que ao levar a debate um assunto como a pornografia a televisão coloca-se em posição pouco confortável. Note-se por exemplo que os telejornais têm praticamente a longevidade de um filme pornográfico(podendo-se sempre optar pelo noticiário alternativo do serviço público que tem a duração de um episódio de uma sitcom). A pornografia, no limite, gera vácuo. Não se tem sensação diversa de vácuo ao ver a televisão portuguesa, mecanizada numa dinâmica de anestesiamento crítico, intelectual e até político. Poucos documentários dignos de nota(os dedicados ao blues, a Bob Dylan e mais recentemente ao 11 de Setembro são excepções que sublinham a regra). Nada de entrevistas com grandes vultos mundiais da cultura e do pensamento numa era tão sedenta de interpretações inteligentes, fracturantes e inspiradoras. Nada de filmes incontornáveis, clássicos ou contemporâneos(quem os quiser que os pague no canal codificado mais próximo dado que o serviço público tem mais que fazer que assegurar este obséquio cultural num país de renda exígua para a maior parte dos seus indígenas). Em contrapartida, algo de mais ou menos novo. Excesso de frivolidade civilizacional e politiquice a rodos. Nunca houve tantos comentadores de toda a espécie a infestar canais televisivos, oriundos directa ou obliquamente de fileiras partidárias ou representantes anódinos da tal sociedade civil cujo içamento à televisão, em tempos, tantos entenderam inadiável. A televisão abriu-se ao país e fechou-se ao mundo. Transformou-se num fim social em si. Num espaço promocional sabiamente gerido pelos seus fazedores e avidamente cobiçado pelos demais. O mundo a sério pode esperar. A TV Cabo não satisfeita com a inenarrável exclusão do Arte da sua grelha deu-se ainda ao capricho de substituir o GNT pela evangélica TV Record. A ver vamos se o Mezzo não tem os dias contados. Sim, porque tudo pode esperar-se deste preservativo gigante que nos domina.





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