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Wednesday, December 13, 2006

 
A vitória de Pinochet
O debate entre esquerda e direita por vezes mais se assemelha a um jogo de garotos prenhes de soberba, pertinazes até ao absurdo na defesa dos seus pontos de vista. Há semanas John Leguizamo, protagonista de Summer of Sam, de Spike Lee, foi ao programa de Conan O'Brien publicitar o livro em que faz uma súmula dos episódios mais hilariantes da sua carreira e desvenda um ramalhete de ridículos providenciados por colegas de profissão. Uma das bizarrias leva a assinatura do inigualável Steven Seagal. Conta Leguizamo que a meio de certo filme Seagal não quis morrer apesar do guião assim o determinar. Na rodagem da cena em que era pressuposto morrer Seagal desfez-se numa birra digna de diva, alegando que os seus fãs não esperam vê-lo cair em combate. A equipa foi apanhada de surpresa, as máquinas pararam, convocou-se o gabinete de crise, e depois Seagal acabou mesmo por ter que fenecer. Ora, no debate esquerda-direita, muitas vezes mais do que argumentos esgrimem-se egos, orgulhos, obstinações, honras, caprichos.Foi o que se viu com a morte de Pinochet.Vá-se lá entender as manifestações de júbilo e contentamento pela morte do homem.Provavelmente os que rejubilaram com o passamento de Pinochet mais não fizeram do que regurgitar a sua própria impotência, a sua derrota. Afinal, Pinochet viveu até aos 91 anos sem que fosse beliscado pelos crimes que apadrinhara.Para escapulir-se às maçadas da justiça invocou para si o que recusara a milhares de chilenos - direitos humanos.E com uma sarcástica piscadela de olho, morreu,de velho e em paz, no dia mundial dos direitos humanos.O que uma parte dos chilenos(e alguma esquerda europeia) festejou foi apenas o desaparecimento tranquilo e natural de um fantasma, de um espectro, contra o qual nada pôde em tempo útil.Os festejos foram, portanto, tão só catárticos. A catarse possível aos derrotados. Entretanto, não seria de admirar que a direita vingasse as efusões de alegria pela morte de Pinochet com moeda similar aquando da tão desejada morte de Fidel Castro. Mas, não existirão diferenças simbólicas significativas entre a morte de um e outro?O que a direita mais almeja celebrar com a morte de Fidel não é o potencial colapso do regime?E quem garante que assim sucederá? Caso o regime prevaleça, ainda que com novas nuances, não se precipitaria a direita no abrir garrafas de champagne?Não estaria a colocar o carro funerário à frente dos bois? À semelhança dos assomos de euforia em Santiago, de que serviriam cortejos de carros alegóricos em Miami, se em Havana tudo se mantivesse na mesma, ou quase?





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