Ossadas
Ouvindo o disco descarta-se sem hesitações a ideia publicitada de que se trata de uma lavradora hábil do fértil solo musical brasileiro. O apetrechamento electro-digital e os contornos londrinizados quer da música quer da persona não deixam travo a imperativo. Não se espreita ali qualquer viela futurista relevante. Mas fica-lhe bem a irrequietude discursiva comprovada umas quantas semanas atrás em entrevista televisiva. Num país de entrevistados servis e submissos soube a pouco ver uma jovem sem papas na língua, nem constrangimentos de espécie alguma frente às câmaras, rebater veemente o chorrilho de lugares comuns papagueado pela anfitriã.
Entrevistadora - Mas o Brasil há muitos anos que está na moda...
Entrevistada - Qual Brasil?!
E assim por diante. No final, parafraseando Adriana, a entrevistada tinha literalmente devorado a entrevistadora, de que apenas restaram, em estúdio, parcas ossadas.