SoundtrackDizem os eruditos que os clássicos não existem para serem amados em função dos prazeres que se possam retirar da sua leitura(leitura, não fruição). Sendo temíveis e difíceis, dizem os eruditos, os clássicos funcionam primordialmente como pontapés no rabo que nos projectam para mais elevados patamares sensoriais e intelectuais. Para uma mais funda percepção de nós próprios e da humanidade. Quem sabe movido por tal crendice insista em submeter-me aos sacrificiais rituais lyncheanos. Lynch, crendo-se inequivocamente visionário genial, adianta-se estipulando as regras do seu próprio jogo. Dita ele em que condições devemos franquear o seu cosmos. Na descida a esse reino de águas profundas, turvas e turbulentas, habitado por humanos absurdos, há que deixar no bote toda e qualquer esperança de plausibilidade suprindo-se entretanto o tórax da maior quantidade comportável de oxigénio. Será que tamanho esmero anarco-narrativo ao longo de quase três horas, por si só, predefine Inland Empire como um dos seus clássicos? Who cares? Amenizam o pesadelo o génio interpretativo de Laura Dern e a banda sonora, de que Lynch é aliás co-responsável.