Blow jobA definição pessoana de Coca-Cola -
primeiro estranha-se, depois entranha-se - fora já glosada a torto e a direito, a propósito de quase tudo, mas nunca, assim sugerem os registos, a propósito do broche. De facto, o
slogan esgalhado por Pessoa define exactamente o processo de adaptação ao
fellatio, encarado sobretudo do ponto de vista feminino. Regra geral(estatística pessoal e inalienável), na estreia estranham. Abocanham timoratas o falo, manuseiam-no segundo um combinado de pudor, ansiedade e nojo, arreliam-no desastradas com os dentes, titilam a glande com a língua espetada qual bezerras, esboçam esgares dilemáticos, emulam ao ridículo fragmentos retidos de filmes pornográficos. Hesitam entre manter os olhos abertos ou cerrados. Entre fixar os olhos, o umbigo ou a pelvis do homem. Engasgam-se, tossicam. Soltam risotas e soluços encavacados. Queixam-se da boca seca, do sufoco decorrente da pressão exercida pela mão do homem contra a nuca e de dores mandibulares. Embaraçadas, recalcitrantes, acossadas por supostos bloqueios morais, desistem. Assumem-se incapazes, não vocacionadas para o acto. São de novo tentadas, cedem e novamente desistem. Três dias decorridos(nos casos mais morosos), e afinal, é como se o tivessem executado toda a vida. Mistério dos mistérios, a coisa ganha voluntarismo, alma, avidez, arte, língua, saliva, volúpia, fome. Pior, torna-se-lhes indispensável.
Um vício.