The Clinton
Ouvem-se belos estardalhaços na televisão. Não há demasiado tempo um tipo novo reiterava o difícil, senão o impossível, que é ser-se amigo de um grande escritor. A ideia mil vezes estucada de que a psique de cada escritor fenomenal comporta um arrozal de idiossincrasias insuportáveis. Ou estoutra ainda. A de que a vil companhia de jornalistas e psiquiatras é de longe preferível à proximidade de escritores, canibais ficcionistas para quem todos, em particular os íntimos, constituem presas indefensas de todo irresistíveis. Há tempo suficiente para que o registo já se tenha varrido das placas de memória de curta duração dos telespectadores, o labirinto de genialidades e peculiaridades temperamentais que dá pelo nome de António Lobo Antunes declinava a mais remota hipótese de partilhar a casa com uma escritora. Explicou-se. De novo o pavor das idiossincrasias e obsessões advinháveis entre escritores. Tão monolítica recusa de Antunes exacerbou entre os telespectadores a suspeita de que Paul Auster e Siri Hustvedt seriam o casal Clinton da literatura contemporânea.