Tomei conhecimento no
Guardian de mais um trambolhão de Cosmo Kramer(Michael Richards).Desta vez um trambolhão a sério.Desastroso. No decurso de um número de
stand-up, em Los Angeles,o actor/comediante que dera alma à inexcedível personagem Cosmo Kramer de
Seinfeld, perdeu as estribeiras e lançou-se numa diatribe racista vergonhosa e reles depois de apupado por um elemento da assistência, no caso um afro-americano. Richards não se conteve e ripostou com insultos racistas da pior índole.Por sorte(não de Richards) alguém registou o incidente com o telemóvel e depositou o filme na internet que o propagou à velocidade da luz. Richards viu-se assim em maus lençóis e forçado(o termo é propositado) a pedidos de desculpa. Na verdade o inferno está entupido desses apelos à clemência. No programa de David Letterman, Richards tentou explicar-se e retratar-se. Como era previsível pouco mais conseguiu do que embrulhar-se num manto de palavras desconexas, mostrando-se profundamente(?!) afectado e perplexo consigo próprio, tal qual um
womanizer de craveira que se descobre com uma erecção viçosa num balneário masculino. Richards diz-se convictamente não-racista. Como acreditar?Ao contrário de Mel Gibson, Richards não tem sequer o falso alibi do álcool. Donde terá então saído todo aquele esterco?Convenhamos que teve que sair de algum lado, nada respirável, da sua pessoa. O caso mereceu algumas linhas na blogosfera portuguesa. Por exemplo,
aqui e
aqui.Estes blogues de esquerda assumem um tom condenatório face ao despiste racista de Richards, mas partem do princípio de que Richards é no fundo um tipo porreiro que cedera a um momento de insensatez desencadeado pela fúria, como tantas vezes sucede no trânsito ou em brigas domésticas.Portanto, nada melhor do que deixar a cargo do tempo a diluição do
problema. O tempo fará esquecer o assunto e voltaremos a vislumbrar em Richards o não-racista que sempre aparentou ser. Os escribas do
Guardian que
opinaram sobre o caso foram liminarmente implacáveis com Richards, não lhe antevendo saída para a caverna em que se meteu.Creio que esta diferença de posturas muito se deve à pose portuguesa em relação a questões de racismo. Existe por aqui uma brandura, uma ambiguidade, um desviar o olhar, um encolher de ombros, uma certa complacência face a situações de racismo que, entretanto, se encaixa na crença generalizada de que o país não é racista. De resto, a estirpe de não-racistas a que pertence Michael Richards, viceja bastante por aqui. São não-racistas desde que os
outros se coloquem e se mantenham no seu
devido lugar.