Perdidos Teatro e cinema. Afinal o filme baseia-se numa peça de Plínio Marcos.Um drama centrado em duas personagens. Dois imigrantes brasileiros em Nova Iorque a quem o sonho americano teima em evidenciar-se como uma miragem macabra, independentemente da força de vontade, determinação, aptidão linguística, genica social ou idade. Dois Perdidos Numa Noite Suja(2002), penúltimo(?) filme do ciclo(sábados) dedicado ao cinema brasileiro contemporâneo na RTP-2. O ciclo ter-se-á iniciado com o visto e revisto Cidade de Deus. A película seguinte não logrou roubar-me mais do que curtos minutos. Com Dois Perdidos Numa Noite Suja era tão baixa a expectativa que foi-me necessário, primeiro, espreitar, demorar alguns segundos a sentir a força ao filme, mudar de canal, e por fim retroceder intrigado face à poética das imagens. As suspeitas confirmaram-se em pesquisa posterior. Aquela interpretação furiosa valeu a Débora Falabella o prémio de melhor actriz no Festival de Cinema de Brasília. Nos últimos anos vi apenas dois filmes brasileiros - Cidade de Deus e Carandiru. Infelizmente na lista de espera encontra-se ainda o célebre Central (do) Brasil(que deveria constar obrigatoriamente do ciclo dado o seu propósito), com Fernanda Montenegro. Não sendo um filme badalado além-fronteiras, Dois Perdidos Numa Noite Escura foi uma das tais descobertas impagáveis que a memória há-de reter e recomendar por muitos anos. Por uma lista infinda de razões faz tempo que o Brasil cessou de me surpreender, empolgar, seduzir. Mas há que saber reconhecer um achado.
Bad boys É bem possível que incorra aqui numa suspeita precipitada, mas, depois de terem substituído o cigarro de Lucky Luke por um ramito de capim, tem-me parecido indisfarçavel o zelo de Hollywood em incrementar heróis não-fumadores. Nada contra tal saneamento às mãos do anti-tabagismo fervoroso em vigor nas terras do tio Sam, e que, mais uns anos, promete mapear também o velho continente. O que causa alguma náusea ideológica é o facto de, de há uns tempos a esta parte, notar-se que no cinema norte-americano os fumadores tendem a ser cada vez mais, e apenas, os maus ou problemáticos da fita. O cigarro que fora outrora um traço de charme, heroísmo e distinção nos lábios de Bogart ou Clint passa a condensar de uma assentada sintomas de maldade congénita, decadência moral, fraqueza de espírito e sociopatia.
PessimismoDando de barato a sua parcela esquizofrénica, a democracia encarna o mais humano dos regimes por subordinar-se aos princípios de vigilância estóica e rotatividade cíclica dos detentores do poder político. Isto é, no fundo, assume como premissa fundadora que o ser humano não se encontra codificado para a prática impoluta do bem (comum). A recusa do providencialismo releva o cunho profundamente pessimista da democracia em relação à natureza humana. Sou assim inexoravelmente democrático porque pessimista íngreme.
DonDe repente dei-me conta de que há muito não ouvia Don Byron, esse exorcista de espartilhos musicais, excelso diluidor de categorias e tracejados fronteiriços entre géneros. Aculturado nos diferenciados linguajares do jazz, explorador sagaz dos alçapões da música clássica, contemporânea, lied e klezmer, compositor, arranjador e executante primordial que nos distantes 90s merecia já a denominação de melhor clarinetista vivo. Detonador de manifestos verbais telúricos quando calha, mas preferindo por norma deixar a cargo do estrito caudal musical esse labor iminentemente político. É bom saber que em 2006 Byron se desdobra na feitura de dois álbuns.